No impresso, ainda há quem afirme que a capa do
jornal é para quem o compra; já seu interior é para quem o lê. E o digital? A "capa" dos jornais
digitais já parece não ter tanta importância. A home principal de grandes veículos e
portais talvez perca um pouco de sentido em um mundo tão conectado, com
ligações nos mais diferentes ambientes. Ao mesmo tempo em que estamos em um
único lugar, estamos em todos.
O site de
uma das maiores revistas do país, a Veja, tem a rede social de microblogs como
um dos seus principais originadores de tráfego. Mais de 33 grandes jornais
internacionais possuem parceria com o Facebook. Querem estar dentro dessa rede
quando Zuckerberg se tornar a maior mídia do planeta. A BBC,
em números recentes,
demonstrou que menos da metade dos 8 milhões de usuários que acessam o portal
chegam ao site através da home principal.
Em um ecossistema em rede deve-se destacar a
importância dos filtros de conteúdo, aquelas empresas ou profissionais
que terão o trabalho de curar
informações oriundas dos mais diferentes cantos da web e
repassá-las de forma amigável ao usuários final. Isso vale também para o
jornalismo de dados, transformando o big data em informação consumível. Porém
o que se deve ter em mente é a forma que tudo isso será processada.
Filtrar conteúdo não necessariamente implica em
centralizar o conteúdo. Com plataformas cada vez mais interconectadas, um pilar
estrutural perde sua função básica. Não só espaço, mas as páginas principais
dos jornais estão perdendo função. A BBC reformulou sua página no Facebook, oferecendo ao
usuário a chance de selecionar o que querem receber na sua timeline. Seria essa a
nova home dos portais? Com a poluição
informacional com que a rede anda, talvez o conteúdo se perca em tantos
"destaques".
Segmentação e customização
Ainda em fase beta, a nova página na rede de
Mark Zuckerberg traz a distinção entre editorias e jornalistas. Dão
"rosto" ao conteúdo. O usuário pode escolher entre diversos assuntos
e, de quebra, receber informações dos profissionais do portal. Seria essa a
nova relação de jornalismo e redes sociais? Isso nos remete aos jornais que
criaramaplicativospara
o Facebook com o
intuito de aproveitar o tempo que os usuários lá gastam. É uma forma de não
"perder" um possível público.
Qual é o limite para essa integração? Aliás, tal
limite existe? Com tantas interconexões simultâneas dos mais diversos cenários,
não corre o jornalismo o risco de perder sua identidade como fonte confiável de
conteúdo? A partir do momento em que as informações passam a circular em
ambientes aleatórios, não corremos o risco de que os usuários não saibam mais
onde procurar? A home dos portais e jornais se perde
ao ter que ser acessada diretamente. Queremos o conteúdo, literalmente, na
palma da mão.
Segmentação e customização são pontos essenciais
para o jornalismo digital que quer sobressair no atual momento 2.0 vivente.
Porém, confesso que não havia pensado pelo lado das páginas principais, agora
nem tão principais assim. Destrincharemos editorias e jornalistas em suas mais
íntimas funções. Chegará o momento de esquecermos a instituição por trás da
informação e só lembraremos o local aonde a vimos? O jornalismo está ficando nu
e, quem sabe, esqueçamos um dia o charme de sua vestimenta.
In Observatório da
Imprensa, por Cleyton Carlos Torres, jornalista e blogueiro.
Fonte: Blog Mídia8
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