Era pra ser uma simples ida ao dentista, mas transformou-se
em texto e em reflexão para todos nós.
Saio para uma consulta com o dentista e essa história que
vou contar começa no momento em que procurava uma vaga pra parar minha moto. Mas
como sempre o centro não tem onde estacionar uma pulga e por sorte encontrei
uma vaga na rua, ao lado da Câmara Municipal de Vereadores.
Paro a moto e olho pra trás, quando avisto uma senhora
sentada na calçada com umas sacolas ao lado, mexendo e dando a impressão de que
procurava alguma coisa. O que mais me chamou a atenção foi a idade dela e as
condições na qual se encontrava. Ainda me perguntei: Será que ela é moradora de
rua? Será que é badameira? Sem resposta
segui pra consulta...
Chegando lá, consultório vazio porque o dentista não tinha
ido, por motivos de doença. Remarquei e como era por volta de 16h10 resolvi ir
até a praça de alimentação da Avenida Getulio Vargas. Como estamos em fase final da campanha
eleitoral municipal, nem preciso dizer que tava um verdadeiro inferno.
Carros de som, meio mundo de gente balançando bandeiras de
partidos políticos, carros plotados, motos, buzinas, gritaria, jovens se divertindo
na pista de skate... E de repente sai dali, no sentido para a avenida contorno,
do lado do edifício Ana Muller, uma motorreata do candidato petista com vários
motoboys fazendo buzinaço. Aí o povo das
bandeiras enlouqueceu a agitar e transformar o furdunço num tapete vermelho e
frenético...
Com pouco tempo, chega pelo outro lado da avenida uma carreata
puxada pelo candidato do DEM com meio mundo de carros particulares, carros de
som, motos de som, bicicletas, bandeiras e mais uma prrada de aficionados pelo
momento...
Dos dois lados, o PANDEMONIO no meio o povo e os que tentavam
se deslocar nos seus afazeres em busca da sobrevivência. E ali, eu presenciando
tudo e registrando em fotos, olhando todo aquele circo e imaginando a senhora
que tinha visto e pensando... “Independente
da situação dela, esses são os culpados por isso, pela situação de abandono e
de maus tratos que as pessoas vivem nas ruas jogadas, sem um pingo de
dignidade...”
Ver o quanto os candidatos são dissimulados e conseguem
arrastar as multidões, não é novidade pra ninguém. Afinal de contas faz parte
do jogo da politicagem, na qual o menos importante são os interesses de quem
realmente precisa e pra quem a politica deveria realmente existir de fato e de
direito.
Passada boa parte do desfile eleitoreiro infernal, resolvi
ir pra casa voltei ao local onde deixei minha moto, e lá estava a senhora
sentada e dessa vez com o olhar distante, olhando pro horizonte, até perceber
que eu a olhava... Estava frio e já era em média 18h30m e notei que além das
roupas que vestia ela tinha por cima uma espécie de colete, capote ou algo
semelhante. Só que o detalhe é que isso era feito com um saco preto que
normalmente se utiliza pra colocar lixo.
Me doeu profundamente a resposta à minha pergunta, sim ela era moradora
de rua... Ao mesmo tempo passava a tal carreata do candidato do DEM pela rua
Visconde do Rio Branco, engarrafando tudo, e a senhora olhava pra tudo aquilo
como se não entendesse nada, ou como se não quisesse nem entender. No olhar
dela, difícil decifrar o que eu via. Não conseguia sair do lugar e por dentro
estava em lágrimas. Senti mais uma vez a sensação de impotência já que nada
pude fazer naquele momento pra pelo menos amenizar a situação. Não conseguia
nem me aproximar pra conversar, pois a minha voz não saía e eu engasgava de
raiva ao ver uma carreata politica com um dos grandes culpados pela situação
daquela senhora. Claro, não só ele mas todo sistema de falta de politicas
públicas ali representadas em todo contexto
até aqui narrado... E nos dito planos de governo nada relacionado aos excluídos
sociais, aos invisíveis que a politica e a politicagem não querem ver. Nenhum
milímetro de sensibilidade a essas questões, salvo as proposições do PSOL que
gravou parte de seu material de campanha num local de exclusão, dando voz aos
invisíveis sociais.
Nesse texto não quero exaltar nem diminuir ninguém, seja
pessoa física, jurídica, partidos, candidatos, absolutamente ninguém. Só quero
provocar uma reflexão diante das situações postas e diante das realidades
vistas e vividas em nosso contexto social, tentando sensibilizar a sociedade pras
questões dos moradores de rua que ocupam o espaço público em Feira de Santana.
É muito difícil saber que o Brasil é um país rico, a Bahia é um estado rico,
Feira de Santana é uma cidade em franco crescimento territorial e econômico, e
os ditos poderes constituídos fazem pouco caso de quem não tem dignidade, voz,
vez, atenção, por um só motivo: não terem DINHEIRO.
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